“Esta é uma história longa e que não se pode resumir a meia dúzia de palavras“, adianta Manuel. “Ela sempre teve tendências muito masculinas em criança. Jogava à bola com os outros rapazes, brincava com fisgas, subia às árvores. Além disso, os médicos sempre nos alertaram para o facto de que as hormonas dela eram maioritariamente masculinas, por isso nós estávamos conscientes do que poderia acontecer”, recorda.
O diagnóstico de perturbação de identidade de género tornou-se ainda mais claro quando Ivone tinha 14 anos: “Ela jogava futebol e um dia magoou-se. Fomos com ela ao hospital e, quando lhe fizeram o raio-x, acharam que ela era um rapaz. O médico disse-nos que ela tinha coluna de homem, por isso percebemos que a questão não eram só as hormonas”. Aos 16 anos, Ivone começou a falar em mudar de sexo. E, aos 18, já estava convencida desse caminho. “Obviamente que ficámos preocupados. Alertámo-la muitas vezes para o facto de essa decisão ser irreversível e para o sofrimento por que ia passar, mas no fundo sabíamos que a escolha dela estava feita. Nós, como pais, só podíamos apoiá-la“, relata a mãe.
“Na altura, até pensámos procurar um sexólogo e tentar fazer o tratamento ao contrário, ou seja, dar-lhe hormonas femininas, mas os médicos disseram logo para tirarmos isso da cabeça. A percentagem de hormonas que ela tinha era demasiado elevada e, além disso, havia a tal questão da coluna”, acrescenta o pai. Apesar de ter, desde criança, uma personalidade forte e vincada – “sai ao pai”, atira Manuel -, Ivone tinha alguma dificuldade em lidar com a sua diferença na terra onde vivia, em Nine, Famalicão. “Sabe, isto é um meio pequeno e as pessoas falam. E isso pesou muito na decisão de ela ir para o Luxemburgo. Tinha 20 e poucos anos, queria ser independente e, numa conversa, disse-me que precisava de se ir embora para pensar na vida, para estabilizar e fazer escolhas”.
FUGA PARA O LUXEMBURGO - No Luxemburgo, começou a trabalhar em cozinha. Fez pizzas, trabalhou em restaurantes e, algum tempo depois, até fez trabalhos de moda. “Ela começou logo a adoptar uma postura masculina. Vestia-se à homem e foi manequim, fazia desfiles e tudo. Nessa altura, começou a querer que a tratassem por Ruca. Ainda hoje, cá em casa, é assim que o tratamos. Raramente lhe chamamos Lourenço”, conta Manuel.
Foi também no Luxemburgo que Ivone conheceu Susana Simões, com quem manteve uma relação de nove anos. “Nunca nos metemos nisso, nem o vamos fazer. Eles viveram juntos, ela tem uma filha que nos trata como avós e a quem tratamos como neta, mas a verdade é que o namoro já acabou há um ano. Eu não sei o que o meu filho quer fazer quando sair do programa, não sei se vai voltar para ela, mas isso será ele a decidir. Não nos metemos”, afirma Rosalinda, para quem as decisões do filho são sempre as mais acertadas: “Ele é uma pessoa muito bem resolvida e muito consciente. Fará o que achar melhor da vida dele”.
COMPRIMIDOS, DIETA E GINÁSIO - Foi quando estava ainda no Luxemburgo, há cerca de três anos, que Ivone iniciou o processo de mudança de sexo. Nos primeiros tempos, tinha de escrever um diário, onde todos os dias anotava pensamentos, estados de espírito e até o que fazia. Tudo isso foi avaliado por uma equipa de psicólogos e, só depois, começou a terapia hormonal. Tomava comprimidos e injecções, fazia uma alimentação cuidada e praticava exercício físico com regularidade.
“Tudo isto faz parte. É preciso ir tornando o corpo mais masculino para depois o preparar para a operação“, resume o pai. Ao longo de dois anos, Ivone vinha a Portugal com regularidade e era o pai ou o ir-mão que a acompanhavam a Lisboa, onde era seguida por uma equipa de médicos do Hospital de Jesus. Os pais iam assistindo às mudanças no corpo da filha com a naturalidade possível, mas a verdade é que nem sempre foi fácil. “Já no final dos tratamentos, ela apareceu aqui e já tinha barba. Confesso que, naquela altura, aquilo me fez um bocado de confusão. Se dissesse que não, estaria a ser hipócrita”, diz Rosalinda, acrescentando ainda que foi nesta fase que Ivone… se “transformou” em Lourenço: “Ela mudou de identidade ainda antes das operações. Até 2011, era preciso fazer a operação primeiro. Depois, a pessoa tinha de ir a tribunal e baixar as calças para verem se era homem ou mulher. Felizmente essa lei foi mudada, porque me parece um bocadinho leviano sujeitarem as pessoas a isto. Agora, basta levarem a declaração médica, com as devidas avaliações e o processo é mais simples”.
Lourenço fez, até agora, 13 cirurgias, mas o processo ainda não está concluído. “Ele tinha uma operação marcada agora para Novembro, mas adiou por causa da entrada para o programa. Faltam duas ou três, mas são, tal como ele já explicou, estéticas. Se ele quiser, quando sair, explica melhor este assunto. É algo demasiado íntimo para sermos nós a falar”. Quanto à entrada do filho na quarta edição da Casa dos Segredos, Manuel e Rosalinda não lhe “cortaram as pernas”. “Tal como em tudo, apoiámos o Lourenço. Ele é que sabe. Eu não gosto do programa, acho horroroso, cheio de pessoas sem nível nenhum. Mas agora, vou vendo aos bocados e acho que ele tem estado bem. O único conselho que lhe dei foi para não ser ninguém diferente do que ele é”.
MENTIRA DO NOIVADO E… OS AVÓS - Os pais do concorrente optaram por se resguardar e não dar a cara. Preferiram esperar que o filho divulgasse o seu segredo, mas agora querem esclarecer várias notícias que têm saído na Imprensa. ”Tem-se dito tanta coisa, meu Deus! Uma das últimas foi que a Ivone tinha estado noiva de um rapaz. Isso é completamente mentira! A minha filha era uma mulher muito bonita, alta, vistosa, com uns lábios muito bem delineados, e tinha muitos pretendentes. Mas ela nunca namorou com ninguém. O rapaz é casado e estas mentiras até lhe podem trazer problemas”, lamenta o pai.
Lourenço teve sempre o apoio incondicional de toda a família. Principalmente das duas avós, ambas falecidas em 2008, que desempenharam um papel muito importante na vida do concorrente do realityshow. “Elas foram um dos maiores desbloqueios para a aceitação dele. Houve ali uma altura em que nós estávamos meio retraídos e preocupados com o Lourenço e a minha mãe, que já tinha 78 anos, disse-nos ‘Porque é que vocês estais a pôr questões? Deixai a rapariga viver a vida dela. Se é isso que ela quer e é isso que a faz feliz, deixem-na seguir o caminho dela.‘”, recorda Manuel.
“Sabe, esse apoio que as avós deram ao meu filho acabou por ajudar a desmoronar um bocadinho a contrariedade natural da família, de tios, primos, etc. Havia quem lhe dissesse para pensar melhor, quem receasse o que ele ia fazer, o que é natural. Toda a gente estava habituada a ver a minha filha como mulher…”, recorda o pai, que encara a vida de Lourenço com tanta naturalidade, que até brinca com a situação: “Antes de ter filhos, sempre disse que queria ter dois rapazes. Olhe, a Natureza encarregou-se de me fazer a vontade“. A mãe, Rosalinda, sorri. “Repare bem: nós tínhamos uma filha triste e que andava sempre cabisbaixa. E agora o meu filho é feliz. Que raio de mãe seria eu se não o apoiasse? Mãe que é mãe protege a sua cria“. Revista TVGuia
O diagnóstico de perturbação de identidade de género tornou-se ainda mais claro quando Ivone tinha 14 anos: “Ela jogava futebol e um dia magoou-se. Fomos com ela ao hospital e, quando lhe fizeram o raio-x, acharam que ela era um rapaz. O médico disse-nos que ela tinha coluna de homem, por isso percebemos que a questão não eram só as hormonas”. Aos 16 anos, Ivone começou a falar em mudar de sexo. E, aos 18, já estava convencida desse caminho. “Obviamente que ficámos preocupados. Alertámo-la muitas vezes para o facto de essa decisão ser irreversível e para o sofrimento por que ia passar, mas no fundo sabíamos que a escolha dela estava feita. Nós, como pais, só podíamos apoiá-la“, relata a mãe.
“Na altura, até pensámos procurar um sexólogo e tentar fazer o tratamento ao contrário, ou seja, dar-lhe hormonas femininas, mas os médicos disseram logo para tirarmos isso da cabeça. A percentagem de hormonas que ela tinha era demasiado elevada e, além disso, havia a tal questão da coluna”, acrescenta o pai. Apesar de ter, desde criança, uma personalidade forte e vincada – “sai ao pai”, atira Manuel -, Ivone tinha alguma dificuldade em lidar com a sua diferença na terra onde vivia, em Nine, Famalicão. “Sabe, isto é um meio pequeno e as pessoas falam. E isso pesou muito na decisão de ela ir para o Luxemburgo. Tinha 20 e poucos anos, queria ser independente e, numa conversa, disse-me que precisava de se ir embora para pensar na vida, para estabilizar e fazer escolhas”.
FUGA PARA O LUXEMBURGO - No Luxemburgo, começou a trabalhar em cozinha. Fez pizzas, trabalhou em restaurantes e, algum tempo depois, até fez trabalhos de moda. “Ela começou logo a adoptar uma postura masculina. Vestia-se à homem e foi manequim, fazia desfiles e tudo. Nessa altura, começou a querer que a tratassem por Ruca. Ainda hoje, cá em casa, é assim que o tratamos. Raramente lhe chamamos Lourenço”, conta Manuel.
Foi também no Luxemburgo que Ivone conheceu Susana Simões, com quem manteve uma relação de nove anos. “Nunca nos metemos nisso, nem o vamos fazer. Eles viveram juntos, ela tem uma filha que nos trata como avós e a quem tratamos como neta, mas a verdade é que o namoro já acabou há um ano. Eu não sei o que o meu filho quer fazer quando sair do programa, não sei se vai voltar para ela, mas isso será ele a decidir. Não nos metemos”, afirma Rosalinda, para quem as decisões do filho são sempre as mais acertadas: “Ele é uma pessoa muito bem resolvida e muito consciente. Fará o que achar melhor da vida dele”.
COMPRIMIDOS, DIETA E GINÁSIO - Foi quando estava ainda no Luxemburgo, há cerca de três anos, que Ivone iniciou o processo de mudança de sexo. Nos primeiros tempos, tinha de escrever um diário, onde todos os dias anotava pensamentos, estados de espírito e até o que fazia. Tudo isso foi avaliado por uma equipa de psicólogos e, só depois, começou a terapia hormonal. Tomava comprimidos e injecções, fazia uma alimentação cuidada e praticava exercício físico com regularidade.
“Tudo isto faz parte. É preciso ir tornando o corpo mais masculino para depois o preparar para a operação“, resume o pai. Ao longo de dois anos, Ivone vinha a Portugal com regularidade e era o pai ou o ir-mão que a acompanhavam a Lisboa, onde era seguida por uma equipa de médicos do Hospital de Jesus. Os pais iam assistindo às mudanças no corpo da filha com a naturalidade possível, mas a verdade é que nem sempre foi fácil. “Já no final dos tratamentos, ela apareceu aqui e já tinha barba. Confesso que, naquela altura, aquilo me fez um bocado de confusão. Se dissesse que não, estaria a ser hipócrita”, diz Rosalinda, acrescentando ainda que foi nesta fase que Ivone… se “transformou” em Lourenço: “Ela mudou de identidade ainda antes das operações. Até 2011, era preciso fazer a operação primeiro. Depois, a pessoa tinha de ir a tribunal e baixar as calças para verem se era homem ou mulher. Felizmente essa lei foi mudada, porque me parece um bocadinho leviano sujeitarem as pessoas a isto. Agora, basta levarem a declaração médica, com as devidas avaliações e o processo é mais simples”.
Lourenço fez, até agora, 13 cirurgias, mas o processo ainda não está concluído. “Ele tinha uma operação marcada agora para Novembro, mas adiou por causa da entrada para o programa. Faltam duas ou três, mas são, tal como ele já explicou, estéticas. Se ele quiser, quando sair, explica melhor este assunto. É algo demasiado íntimo para sermos nós a falar”. Quanto à entrada do filho na quarta edição da Casa dos Segredos, Manuel e Rosalinda não lhe “cortaram as pernas”. “Tal como em tudo, apoiámos o Lourenço. Ele é que sabe. Eu não gosto do programa, acho horroroso, cheio de pessoas sem nível nenhum. Mas agora, vou vendo aos bocados e acho que ele tem estado bem. O único conselho que lhe dei foi para não ser ninguém diferente do que ele é”.
MENTIRA DO NOIVADO E… OS AVÓS - Os pais do concorrente optaram por se resguardar e não dar a cara. Preferiram esperar que o filho divulgasse o seu segredo, mas agora querem esclarecer várias notícias que têm saído na Imprensa. ”Tem-se dito tanta coisa, meu Deus! Uma das últimas foi que a Ivone tinha estado noiva de um rapaz. Isso é completamente mentira! A minha filha era uma mulher muito bonita, alta, vistosa, com uns lábios muito bem delineados, e tinha muitos pretendentes. Mas ela nunca namorou com ninguém. O rapaz é casado e estas mentiras até lhe podem trazer problemas”, lamenta o pai.
Lourenço teve sempre o apoio incondicional de toda a família. Principalmente das duas avós, ambas falecidas em 2008, que desempenharam um papel muito importante na vida do concorrente do realityshow. “Elas foram um dos maiores desbloqueios para a aceitação dele. Houve ali uma altura em que nós estávamos meio retraídos e preocupados com o Lourenço e a minha mãe, que já tinha 78 anos, disse-nos ‘Porque é que vocês estais a pôr questões? Deixai a rapariga viver a vida dela. Se é isso que ela quer e é isso que a faz feliz, deixem-na seguir o caminho dela.‘”, recorda Manuel.
“Sabe, esse apoio que as avós deram ao meu filho acabou por ajudar a desmoronar um bocadinho a contrariedade natural da família, de tios, primos, etc. Havia quem lhe dissesse para pensar melhor, quem receasse o que ele ia fazer, o que é natural. Toda a gente estava habituada a ver a minha filha como mulher…”, recorda o pai, que encara a vida de Lourenço com tanta naturalidade, que até brinca com a situação: “Antes de ter filhos, sempre disse que queria ter dois rapazes. Olhe, a Natureza encarregou-se de me fazer a vontade“. A mãe, Rosalinda, sorri. “Repare bem: nós tínhamos uma filha triste e que andava sempre cabisbaixa. E agora o meu filho é feliz. Que raio de mãe seria eu se não o apoiasse? Mãe que é mãe protege a sua cria“. Revista TVGuia
